A vida se constitui num jogo às vezes calmo, outras vezes violento. E nessa competição cheia de vitórias e derrotas não se sabe ao certo quem é o vencedor, pois tudo muda muito rapidamente, e tal qual uma roda gigante ninguém permanece em cima por muito tempo. Os acontecimentos correm como água em rio caudaloso e, velozmente, deságua no mar da eternidade.
Nessa corrida sinuosa, vez por outra nos encontramos no pico, e de lá descemos aos "vales dos jardins floridos". Mas algumas vezes, por coincidência ou não, também chegamos ao vale da sombra da morte sem que ninguém nos impeça. Isso ocorre numa contagem decrescente e assustadora, pois é inevitável e, por esse motivo chegamos lá.
Nessa fase final a nossa cerviz se dobra, não por querer, mas, fragilizada pela também desgastada coluna da nossa construção que de fraca, já não sustenta os membros que dela dependem. Ali é esmagada toda arrogância humana, o nobre e o plebeu se juntam sem que sejam notadas suas diferenças. Nesse mundo que ninguém gostaria de habitar, todos são iguais.
É ali que se baixa a corda da gangorra, desce-se ao poço cavado por Deus para nele colocar os humanos, como Ele mesmo disse: "Tu és pó e em pó há de tornar-se". Lá cessa a voz do exator, o escravo se livra do tronco e do chicote, e o cetro do rei é arrancado de sua mão e não volta mais.
Dessa trilha humana somos transeuntes, andando marcado pela chancela que a todos destina, pois nascemos chorando, vivemos sofrendo e finalmente morremos. Se nela eu puder colher algumas flores, o farei cedo. E, aproveitarei para admirá-las e inalar delas todo seu perfume, porque após a tarde, no meu anoitecer, elas murcharão junto comigo.
João Gomes da Silva é escritor, teólogo, conferencista e coordenador do Seminário Teológico Paulo Leivas Macalão, em Colinas do Tocantins. E-mail: revjoaogomes@gmail.com
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