Colhendo as flores antes que murchem

A vida se constitui num jogo às vezes calmo, outras vezes violento. E nessa competição cheia de vitórias e derrotas, não se sabe ao certo quem é o vencedor, pois tudo muda muito rapidamente. E  tal qual uma roda gigante, ninguém permanece em cima por muito tempo.

As coisas correm como água em rio caudaloso e velozmente deságua no mar eterno. Eternamente.

Nessa corrida sinuosa, ora estamos no pico, e de lá descemos aos "vales dos jardins floridos", mas poderemos chegar, também, ao vale da sombra da morte, sem que ninguém nos impeça.

Quando chegamos nessa fase final, a nossa cerviz se dobra. Não por querer, mas fragilizada pela também desgastada coluna da nossa construção que, de fraca, já não sustenta mais os membros que dela dependem.

Ali é esmagada toda arrogância humana. O nobre e o plebeu se juntam sem que sejam notadas as suas diferenças. Nesse mundo que ninguém gostaria de habitar, todos são iguais!

É ali que se baixa a corda da gangorra, desce-se ao poço cavado por Deus para nele colocar os humanos, como Ele mesmo disse: "Tu és pó e em pó há de tornar-se".

Lá cessa a voz do exator, o escravo se livra do tronco e do chicote, e o cetro do rei é arrancado de sua mão e não volta mais. Dessa trilha humana somos transeuntes incondicionais, andando marcados pela chancela que a todos destina.

Se nesse caminho eu puder colher algumas flores, o farei onde encontrar. E, aproveitarei para admirá-las mesmo as mais singelas e inalar delas todo seu perfume, porque na tarde do meu anoitecer, elas murcharão junto comigo.

Nesse dia, a minha alma deixará esta choça. E na separação dessas duas substâncias, uma voltará ao pó e ali ficará para sempre. E tu, minha alma, voarás rumo à tua nova morada chamada “Deus”. Dentro dela, como era antes, ao chegares lá, outra vida te espera, onde viverás feliz eternamente.

Colaborou com o Jornal da Missão o Sr.:

João Gomes da Silva é escritor e teólogo, Coordenador do Seminário Teológico Paulo Leivas Macalão, em Colinas do Tocantins

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